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Introdução ao universo DLT

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@shapeshiftdaobr
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O surgimento das Tecnologias de Armazenamento Distribuído

A concepção de novas tecnologias ocorre, normalmente, em razão de problemas existentes na sociedade. Por meio delas, torna-se possível a resolução ou, ao menos, a diminuição deles.
Assim, a criação do Bitcoin por Satoshi Nakamoto veio como uma proposta de solução para resolver uma fragilidade no sistema financeiro tradicional. A falta de confiança no Estado em exercer seu poder regulatório sobre instituições financeiras e a ausência de transparência quanto ao funcionamento destas, foram problemas identificados durante a crise de 2008.

Ao juntar anos de estudos de outros pesquisadores - como Wei Dai, Hal Finney, Adam Back - Satoshi, em 2009, implementou uma solução: uma rede de armazenamento de registros imutável, pública e garantida por validadores anônimos. Estes, não dependem da confiança mútua para realizar a validação, pois a sua verificação é realizada através de métodos algorítmicos e criptográficos. A esta nova forma de guardar informações foi dado o nome de blockchain.

Assim, o Bitcoin trouxe um novo paradigma para a sociedade: não só uma nova forma de representação de valor, mas a elaboração de mecanismos capazes de garantir a veracidade de dados armazenados sem a necessidade de depositar a confiança em intermediários.

A blockchain é um tipo de DLT - Distributed Ledger Technology ou Tecnologia de Registros Distribuídos - e foi a primeira do tipo a ser desenvolvida. Num modo geral, DLTs referem-se a uma nova forma de gravar e armazenar informações ao longo de vários bancos de dados. Estes, comunicam-se entre si com o objetivo de sincronizar e enviar os dados através da rede distribuída que engloba os participantes, responsáveis por validar todas as transações ocorridas.

Neste tipo de DLT, os dados são armazenados e transmitidos em pacotes denominados como "blocos", os quais são interconectados uns aos outros em uma corrente digital. Ou seja, é construída uma "corrente de blocos" - daí o nome blockchain -. A garantia de que as informações presentes nos blocos não possuem dados falsos ou alterados é realizado de maneira consensual entre os nós validadores. No caso da blockchain do Bitcoin, usa-se o mecanismo de consenso conhecido como Prova de Trabalho, inibindo usuários maliciosos que intentam introduzir blocos adulterados e facilitando a validação das informações presentes na corrente de blocos transmitidas entre os nós.

No entanto, outros tipos de DLTs surgiram após a criação da blockchain, com o objetivo de atender necessidades específicas. Deste modo, as DLTs privadas surgem, com aplicações na cadeia de suprimentos, sistema financeiro tradicional, energia, entre outras.

Para ilustrar a diferença entre DLTs públicas - Bitcoin e Ethereum - e privadas, trago a análise do World Bank Group (traduzida para o português):

O uso de DLTs não demandam que estas sejam públicas como a blockchain do Bitcoin. Certas empresas que desejam usufruir das vantagens que ela traz, mas não desejam tornar públicas todas as informações de seu modelo de negócio, adequam-nas de acordo com suas necessidades. Portanto, DLTs podem ser públicas, privadas ou mesmo híbridas, mesclando características de ambas.

Contudo, as DLTs privadas abrem mão das principais vantagens existentes na criação de Satoshi: uma melhor transparência nas informações; fácil auditamento da validação destas; e a descentralização no armazenamento e validação dos dados. Por este motivo, entidades privadas que optarem por DLTs privadas devem analisar cuidadosamente se, ao colocarem pontos de centralização na rede, não as tornarão mais suscetíveis a ataques de hackers, como o de 51%¹, por exemplo.

Não quer-se aqui criticar o uso de soluções de DLTs privadas: apenas é importante salientar que a adoção institucional desta tecnologia é uma migração natural, pelos benefícios que trará ao setor. Assim, as informações armazenadas poderão estar sob grave risco, caso não sejam consideradas características como: mecanismos eficientes para formação do consenso; o maior número possível de nós responsáveis pela validação e armazenamento dos dados; e diminuição nos pontos de centralização de controle/administração das DLTs.

Mesmo com desvantagens, importante ressaltar que existem vantagens no seu uso. A escalabilidade almejada para atingir a capacidade de processar um alto volume de transações dificilmente será atingida em DLTs públicas de primeira camada como a da Ethereum - 15 TPS² - ou do Bitcoin - 7 TPS -. Enquanto isso, soluções privadas como a da Ripple, que visa servir como backbone para pagamentos internacionais entre bancos e vem aprofundando-se no mercado de tokenização de ativos, promete suportar até 50.000 transações por segundo. Portanto, a ausência de descentralização pode trazer benefícios e malefícios a rede: cabe a cada um encontrar a melhor solução para si.

Entidades governamentais tendem a ter uma aceitação melhor a DLTs privadas, por ter uma abertura muito maior para controle sobre os usuários na rede. Um exemplo, é a adoção das tecnologias desenvolvidas pela R3 para a implementação de uma CBDC brasileira.

Por outro lado, muitos desenvolvedores de dapps abominam empresas como Ripple e tendem a construir suas aplicações em DLTs mais descentralizadas como a Ethereum, por exemplo. Acerca dos problemas de escalabilidade, soluções já vem sendo propostas, como o uso de Segundas Camadas como a Arbitrum/Optimism e a expectativa da migração do mecanismo de consenso entre os nós validadores, que hoje é realizado utilizando Prova de Trabalho, mas que adotará a Prova de Participação - Proof of Stake - na rede Ethereum. Quanto ao Bitcoin, há soluções de segunda camada também sendo desenvolvidas, como a Lightning Network, RSK e Stacks.

O importante é que o universo cripto está em constante desenvolvimento e novas soluções de DLTs irão surgir, sejam elas mais ou menos descentralizadas. E você, conhece alguma que não foi mencionada aqui?

¹ Nos ataques de 51%, usuários maliciosos conseguem ter o controle de mais da metade dos nós validadores, permitindo-os adulterar transações ocorridas ou mesma apagá-las dos registros.

² TPS = Transações por Segundo


Artigo de Guilherme Barbosa, selecionado através do Fluxo de Informação e Globalização da ShapeShift DAO em 16/11/2021.